Cortando os pulsos

Não é tpm. É simplesmente a constatação de que você é mesmo uma pessoa sozinha no mundo. Você nasce sozinha, você morre sozinha, você vive sozinha. A única pessoa que vai te acompanhar durante a vida inteira é você mesma. Dói sair da casca, dói abandonar o ninho, dói voar pra longe, dói renunciar. Mas quanto mais você adia esse momento, mais doloroso fica depois, até a dor se tornar quase insuportável, porque você passou do momento de cortar o cordão umbilical, e ele agora se tornou mais grosso, mais forte, quase uma corrente. E você não tem a serra certa pra cortar. A perda e a solidão são ameaças constantes. Você pode perder qualquer pessoa a qualquer momento. Seja para a morte, seja pra outra pessoa, seja pela perda de um sentimento que um dia existiu e hoje não mais. Não há regras. Não há como prevenir. Não há como esperar que dure pra sempre. Não há como planejar, como projetar. Só há como aproveitar ao máximo o momento e guardá-lo com todas as forças na memória, pra nunca esquecer. Ou é melhor esquecer, pra não doer tanto? Afinal o que faz doer é justamente não ter mais aquilo que foi tão bom. Se esquecermos do fato, esqueceremos do quão bom foi, então não sofreremos. Recomendo uma cirurgia de remoção da área do cérebro que retém aquelas lembranças. A cirurgia pode ser um risco, o pós-operatório deve ser sofrido. Mas nada pode ser tão duro e doer tanto quanto lembrar de milhares e milhares de momentos bons, únicos, inesquecíveis, que não mais se repetirão, que você nunca mais vai sentir novamente. A lembrança é eterna, você tem que conviver com isso pra sempre. Não há método de tortura mais eficaz.

É muito dificil quebrar a aliança.

E quando você está assim, tão triste, até a comida perde o sabor. Fui comer um big mac e... era um gosto cinza. Comi chocolate, e tb era insosso. Não tinha a alegria do sabor, não tinha o prazer da degustação. E olha que eu estava com fome. Mas o mundo fica muito cinza, cinza-tempestade. Cinza-frio. Cinza.