terça-feira, agosto 23, 2005

"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo : sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente, todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."

"Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha. Se der para me entenderem, está bem. Se não, também está bem."

"Então defendia-se da morte por intermédio de um viver de menos, gastando pouco de sua vida para esta não acabar. Essa economia lhe dava alguma segurança pois, quem cai, do chão não passa. Teria ela a sensação de que vivia para nada? Nem posso saber, mas acho que não. Só uma vez se fez uma trágica pergunta : quem sou eu? Assustou-se tanto que parou completamente de pensar. Mas eu , que não chego a ser ela, sinto que vivo para nada. Sou gratuito e pago as contas de luz, fás e telefone. Quanto a ela, até mesmo de vez em quando ao receber o salário comprava uma rosa."

Clarice Lispector - A hora da Estrela


ahhhhh... Clarice, Clarice, Clarice... Essa mulher acerta nosso estômago. Ela acerta tudo.

Nenhum comentário: