sábado, janeiro 28, 2006

Então que depois de 20 dias de um calor absurdo, 50 graus, um sol que machucava quando batia na pele, um calor de derreter geleiras, cai uma chuva de 1 hora e meia, que alaga bairros, faz ruas virarem rios, mata pessoas afogadas num estacionamento subterraneo de um shopping (leia aqui) e deixa no dia seguinte alguns bairros da cidade com o aspecto de Nova Orleans após o Katrina. A natureza está, realmente, revoltada. O mundo está doido, e eu estou começando a ficar um pouco assustada.

A verdade é que ontem, pela primeira vez na minha vida, eu vi uma enchente. Eu estava na enchente. Eu fiquei quase uma hora embaixo de chuva, com a agua na altura do meu joelho, abrigada numa garagem, vendo a rua à minha frente virar um rio. Com direito a ondas. Arrastando carros. Deixando as pessoas desesperadas. Eu só precisava atravessar a rua, mas em 30 segundos tudo encheu de uma tal maneira, que não dava pra atravessa-la. Contando assim ninguém acredita, contando assim ninguém consegue imaginar. Todo mundo vai achar que é exagero. Eu também acharia. Mas não é. Eu estava lá, numa rua normal, embaixo de uma marquise. De repente a chuva começou a apertar, o vento começou a ficar tão forte a ponto de me empurrar, e enquanto eu observava um morador abrir o ralo da rua, a água já tinha chegado na altura do degrau aonde eu estava. Nos proximos 5 segundos, enquanto eu saía da marquise e entrava na rua pra me livrar da água nos meus pés, a água já estava no meu joelho e eu já não conseguia enxergar bueiros, degraus, nada, nada. E após uma hora ali, parada, eu atravessei a rua/rio com a água na altura da minha cintura. Amparada (agarrada) por um vizinho, claro, porque uma pessoa que tem pavor de morrer afogada jamais conseguiria atravessar um rio sozinha. Mas graças àquele rapaz, eu consegui entrar no prédio e ficar longe da enchente. Um horror, um horror. E hoje de manhã, ao sair, mais uma vez eu fiquei chocada. Muros foram derrubados, portas de garagem foram abertas, lama, muita lama, moradores colocando os móveis pra fora, pra secar. Tudo isso por causa da força da água. É uma pena que eu não tinha uma digital na hora, porque ao menos eu poderia passar pra vocês uma idéia do que realmente foi. Juro que as imagens eram muito parecidas com Nova Orleans depois do Katrina. Claro, em suas devidas proporções. Muito, muito assustador. Eu estou chocada ainda.

Mas se tem uma coisa que me emocionou, me deixou feliz, e me marcou, foi a solidariedade das pessoas. Vários rapazes ajudando a amarrar os carros, vizinhos solidários oferecendo abrigo para os desconhecidos assustados que estavam embaixo da chuva, todo mundo preocupado com o próximo, perguntando em que podia ajudar, se arriscando, se disponibilizando pra fazer o possível. Todos, todos nessa hora viram uma grande família, todos se preocupam com o próximo, e é uma preocupação genuína, sem interesses, algo muito, muito lindo e muito inspirador. Naquele momento eu tinha vontade de abraçar todo mundo. Eles vão estar sempre na minha mente e eu serei eternamente agradecida a eles. Porque são nessas horas em que você vê que ainda há muita gente boa no mundo. E elas sabem a hora certa de aparecer.

Um comentário:

B. disse...

HUAHUAUAHHUAAHU

o "como quem é?" foi a melhor! huahuahua! a sua indignação, huahuahuahua

lóvu-te =****