segunda-feira, dezembro 19, 2005

Frustrações

Eu tenho várias delas. Muitas. Montes.
E por várias vezes eu estive prestes a me lamentar delas.
Alugar algum infortunado ser pra ouvir por horas e horas os meus lamentos, arrependimentos, amarguras, inconformismos, derrotas.
Mas não adianta.
Só piora.
É como um grande guarda-roupas completamente entulhado de tralhas, velharias, roupas emboladas. Você o deixa no quarto de velharias, porque tudo fica tão apertado lá dentro, que se você abrir a porta, tudo cai como uma avalanche. E quanto mais cai, mais coisas vc vai descobrindo que tinha ali, e que você nem sabia ou não lembrava. E pra reorganizar é dificil. Às vezes quando acidentalmente acontece de abrir a porta, vc embola tudo mais ainda, joga lá dentro e fecha a porta rapidamente, deixando tudo lá dentro mais bagunçado ainda do que antes.
Assim é se lamentar.
Quanto mais você abre a porta, mais a bagunça cai em cima de vc. E se você não tiver muito, muito tempo disponível e disposição pra arrumar, tudo volta exatamente pro mesmo lugar mais bagunçado ainda do que antes.
Então eu só coloco a mão no puxador.
Mas penso bem, e em tempo.
E só me certifico de que a porta está bem fechada, e que ninguém vá conseguir abrir sem que eu realmente queira.

***

E de alguma maneira ela ainda não se sentia preparada pra voltar, mas já não queria permanecer aonde estava, longe. Então ela ficou parada no meio do caminho, sem saber qual direção tomar. Avançou, retrocedeu, avançou, retrocedeu e no final não sau do lugar. Então decidiu girar a 90º e seguir em frente. Cortando galhos, pulando poças, tirando mato e se assustando com os barulhos desconhecidos que às vezes ouvia na escuridão. Ela não sabia aonde estava, nem o que poderia aparecer por ali e nem aonde ia parar. Mas ela abriu um novo caminho. E deu vários passos à frente, rumo ao desconhecido. Porque o medo que outrora a teria feito correr de volta ao ponto de partida, esse já lhe era conhecido demais, e ela já estava completamente enjoada dos velhos conhecidos.

***

Às vezes é bom vc receber uma chibatada, pq vc pára e pensa "vem cá, eu realmente preciso disso?" e daí vc chega à brilhante constatação "não, eu NAO preciso disso." e deleta aquela criatura da tua vida para todo o sempre, amém. Simples assim. Mas se não fosse por aquela palavra mais dura, nunca seria. Então há males que vem pro bem, mesmo.

***

Saudade de dar gargalhadas inesperadas, descompromissadas, sem querer ou esperar nada em troca, rir aquele riso gostoso, que vem de dentro, que te faz chorar e rejuvenescer e te faz acreditar que a vida é tão boa, tão boa, que se nada valeu a pena até agora, tudo valeu a pena só pela oportunidade de ter dado aquele riso, aquele sorriso, aquela gargalhada.

***

Mudanças. Eu não sei lidar com mudanças. Nunca soube. Mas certas mudanças me afetam mais do q outras. Com algumas eu fico sem ação, não sei como reagir, como lidar. São mudanças bobas, mas que me incomodam. Me perturbam. Pq eu me sinto inferior. É. Eu não sei lidar com aquilo que me faz sentir inferior. Eu me torno agressiva, seca, áspera, cruel mesmo. E ainda faço a pessoa se sentir culpada por algo que ela não fez. Quando eu digo que eu sou uma pessoa desprezível, é pq eu sei que sou.

***

Eu tenho medo da vida.
Eu vivo tentando me proteger da vergonha, da decepção, da rejeição.
Eu não faço nada que possa errar.
Eu tenho medo de dar um passo rumo ao desconhecido.

***

“Se te dá medo é porque vale a pena.”

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